— A Rota dos Balcãs tem sido um dos principais caminhos de migração para a Europa. Desde 2015, centenas de milhares de pessoas migrantes atravessam as fronteiras na esperança de chegar ao centro da Europa.
— Para muitas, o percurso começa na Turquia, tentando chegar à Bulgária e Grécia e fazendo, depois, o caminho para norte em direção à Albânia, Bósnia e Herzegovina, Macedónia do Norte, Montenegro e Sérvia.
— Entre o dia 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2020, mais de 100 000 pessoas refugiadas e migrantes, entre as quais 17 500 crianças, chegaram aos países da Península Balcânica:
- Albânia: 11 973
- Bósnia e Herzegovina: 16 211
- Bulgária: 3 525
- Kosovo: 1 910
- Macedónia do Norte: 41 257
- Montenegro: 2 832
- Sérvia: 25 506
— A maior parte destas pessoas vem do Afeganistão, Síria, Iraque, Paquistão, Marrocos, Argélia, Tunísia e Bangladesh. Muitos dependem de ajuda humanitária mas muitos outros nem a esta têm acesso, debatendo-se às portas da Europa com infindáveis desafios e ausência de condições para lhes fazer frente.
— Em todos os países, os desafios são idênticos, especialmente com a chegada do rigoroso inverno, típico desta zona da Europa. Milhares de migrantes e refugiados encontram-se encurralados no inverno bósnio, onde as temperaturas chegam facilmente aos 15 graus negativos. A situação política da Bósnia tem vindo a dificultar cada vez mais uma resposta humanitária eficaz. O governo recusa-se a criar instalações adequadas para acolher estas pessoas, e por esse motivo, o número de pessoas que vivem sem abrigo é mais alto que nunca. Entre os milhares que dormem na rua, incluem-se mulheres, crianças e centenas de menores não acompanhados. Sobrevivem em prédios e fábricas abandonadas, o único abrigo possível. Não têm acesso a água corrente, alimentação, aquecimento ou cuidados de saúde.
— A ausência de água corrente traz inúmeros problemas. Pessoas a tomar banho no rio gelado ou com neve que conseguem derreter são cenários frequentes. O frio e a falta de condições sanitárias contribuem para o elevado número de doenças, como sarna e infeções respiratórias.
— Desde o final de 2020 que se aguarda por uma solução humana para abrigar os milhares de pessoas que sobrevivem ao relento, debaixo de neve, chuva e vento. Sem comida, aquecimento ou cuidados médicos. Até agora, nenhuma solução parece estar próxima.
— Na Albânia, centros de acolhimento sobrelotados não conseguem corresponder às necessidades básicas diárias de todos, restando como opção para muitos mendigar nas ruas das cidades. Já em 2017, o Albanian Helsinki Committee denunciava a falta de condições e recursos do país para acolher migrantes e refugiados, não conseguindo assegurar as suas necessidades básicas, denunciando, também, atos de violência cometidos contra migrantes, especialmente menores, que se continuaram a verificar e a denunciar desde então.
— A Sérvia acolhe, neste momento, cerca de 6 000 migrantes, maioritariamente em centros de acolhimento. Ultimamente tem havido um aumento de grupos “vigilantes” na capital que perseguem e expulsam pessoas migrantes e refugiadas da cidade.
— Em Belgrado, na capital sérvia, estes menores relatam que não têm acesso a ajuda das autoridades por não terem documentos, não são aceites em campos para menores e já foram vítimas de violência policial quando tentaram passar a fronteira.
— A maior parte destas crianças estão “presas” numa rede de tráfico controlada desde o país de origem, e são controladas por traficantes locais ao longo da viagem. Têm pouco contacto com os pais e o que têm é, na maior parte das vezes, monitorizado pelos traficantes. São vítimas de violência, incluindo violência sexual, e não têm como denunciar nem a quem pedir ajuda.
— Nas fronteiras dos balcãs, maioritariamente na fronteira da Croácia com a Sérvia e com a Bósnia, mas também ao longo das fronteiras da Hungria, Alemanha e Áustria, tem existido um aumento dos pushbacks, sendo as pessoas deportadas ilegalmente para o país vizinho e sendo-lhes recusada a oportunidade de pedirem asilo. Abusadas física e emocionalmente, muitas vezes, são presas em celas sem água corrente, aquecimento e sem acesso a assistência legal.
— As oscilações do fluxo migratório na Rota dos Balcãs têm conhecido diferentes respostas ao longo do tempo, dos diferentes países que dela fazem parte. Nos últimos anos, o aumento do sentimento anti-imigrantes, o fortalecimento dos partidos nacionalistas e o aumento de protestos contra a sua presença em muitos deles, têm aumentado a vulnerabilidade de migrantes e refugiados que se vêem presos nestas fronteiras internacionais.
— Nas fotos, os rostos de 4 homens migrantes que estão neste momento nos Balcãs [pelos fotógrafos Milene Van Arendonk, Vincent Haiges e Julian Busch].
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[Esta é a terceira parte de uma série de artigos que estamos a publicar, em parceria com a Refugees Welcome Portugal, acerca da situação migratória na fronteira dos Balcãs.]