— Este artigo foi publicada originalmente pelo 7 Margens.
Encontro 1001 razões, que normalmente elencam o catálogo de fundamentos para o diálogo e que nem por serem mais corriqueiras se tornam inverdades, tais como:
i) As religiões são paz e o Nosso Deus fala-nos assim
É preciso compreender que as religiões – tantas vezes instrumentalizadas e ao contrário do que muitos apregoam – são um bálsamo para a existência humana e um veículo privilegiado para a promoção da paz e fraternidade universais e não raras vezes confundidas com outras agendas, de índole mercantilista, geopolítica, entre outras;
ii) Porque o mundo não tem de ser assim, de confrontação e de guerra
Só atingiremos a suprema bondade, quando soubermos apreciar o outro na beleza da sua diversidade e não numa igualdade forçada;
iii) Temos mais que nos une, do que o que nos separa
Não é apenas uma frase agradável: as afinidades são infindáveis, um Deus único, que falou e que se revelou, através das escrituras (e essa é a boa nova do monoteísmo). O Deus do pai Abraão, de Moisés, de Jesus que nasceu numa terra Santa para todos – e que tristemente é palco de uma guerra sangrenta – que mais devia unir, em vez de separar.
Ó gente! Em verdade, formámo-vos de um varão e de uma fêmea e fizemo-vos nações e tribos, para que se conheçam uns aos outros. O mais honrado entre vocês é o mais piedoso […] Alcorão Sagrado (Capítulo “Os Aposentos” 49:13)
Mas desta vez, resolvi fazer diferente e propor uma receita mais original:
O diálogo religioso precisa certamente de empatia e amabilidade, e ambas têm de ser compatíveis com a máxima honestidade de ideias.
O cristão precisa de aprender a ouvir do muçulmano que Allah não tem parceiros, e por isso Jesus não é Deus. E o muçulmano tem de ter a frontalidade de o dizer diante dos cristãos.
O muçulmano precisa de aprender a ouvir do cristão que no Deus único há três pessoas divinas, e que uma delas, sem deixar de ser Deus, tornou-se também homem em Jesus, que é realmente Deus. E o cristão tem de ter a frontalidade de o dizer diante dos muçulmanos.
Nada disto perverte as suas fés, nem representa um discurso de ódio recíproco.
Tal representa, aliás, um máximo respeito recíproco, constituindo uma saudável e radical disposição de não andar a brincar às escondidas intelectuais ou religiosas.
Descobri, no plano da minha experiência pessoal, que o estímulo da amizade promove genuína e descontraidamente que sejamos capazes de apreciar o que o próximo diz, “calçando os seus sapatos” como diria Mia Couto, resgatando os melhores argumentos destes pela simpatia que por eles nutrimos, usando uma linguagem universal e não exclusiva da minha fé, com verdade e não nos furtando aos temas difíceis e tendo por propósito o diálogo e não o consenso, numa própria e verdadeira fraternidade universais.
Depois de se dizerem isto reciprocamente, devem logo a seguir procurar ir alegremente beber um “vimto” (e não vinho por impossibilidade de pelo menos um deles), contar anedotas, rir juntos e regressar a casa contentes de ainda terem ficado mais amigos.
Enfim, a frase para um milhão de dólares na célebre e sábia expressão popular das terras do uncle Sam:
Se não aprendermos a dialogar sobre a religião, acabaremos por guerrear por causa da religião.