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E depois de Moria?

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24/9/2020

— O novo campo de refugiados da ilha grega de Lesbos, construído junto ao mar, em Mitilene, a capital da ilha, já acolhe a quase a totalidade das 12000 pessoas que ficaram desalojadas depois dos incêndios que destruíram o campo de Moria.

— O campo foi construído pelas autoridades gregas — que detêm a responsabilidade geral pela gestão e coordenação da resposta humanitária — com o apoio do ACNUR, da Agência das Nações Unidas para os Refugiados e de outras organizações.

— As autoridades gregas tentaram persuadir as pessoas a mudarem-se para o novo campo, garantindo que as suas necessidades básicas seriam asseguradas. Muitas pessoas recusaram-se a fazê-lo e afirmaram ter medo do que este novo campo representaria e de como afetaria as suas vidas.

— Perante a resistência encontrada, o Governo grego distribuiu flyers pela população migrante descredibilizando o trabalho das ONGs, voluntários e jornalistas no terreno. Após várias tentativas de persuasão, o Governo grego informou que apenas as pessoas que estivessem no novo campo teriam avanços nos seus processos de pedido de asilo.

— No novo campo, as tendas brancas e novas do ACNUR fazem parecer que as condições atuais são incomparavelmente melhores do que aquelas onde viviam estas mesmas pessoas quando estavam em Moria. No entanto, a verdade é que as condições neste novo espaço são piores porque há muito em falta.

— Existem apenas 45 casas de banho (estilo festivais), para as cerca de 12 mil pessoas que já aceitaram no campo.

— Não há distribuição regular de comida, apenas uma vez por dia. Não há cobertores para o frio e o vento que vêm do mar.

— Não há chuveiros e tomar banho é um processo de três horas: as pessoas têm que esperar, entre uma hora e uma hora e meia, numa fila para a água doce. Depois de encherem garrafas de litro e meio, dirigem-se ao mar com o seu sabão num saco de plástico. Esperam que as pessoas que já lá estavam acabem o seu banho, esperam que as ondas agitem o mar, que levem a espuma, a sujidade, os detergentes da roupa, e tomam banho. Depois passam o corpo pela água doce das garrafas.

— O ACNUR já anunciou que vai começar a montar chuveiros e bacias para higienização das mãos e o ministro da Proteção Civil grego confirmou que haverá um sistema de abastecimento de água e esgotos assim que possível.

— Vários repórteres no local confirmaram que os jornalistas estão quase totalmente impedidos de entrar no campo. O Governo grego diz que o campo é ainda uma zona militar e por isso a gravação de imagens não é permitida.

— A área do campo e a quantidade de pessoas realojadas não permite que o distanciamento social seja mantido. As tendas têm mais de 100 pessoas lá dentro, com beliches, como uma camarata militar, não havendo qualquer distanciamento ou privacidade dentro destes espaços

— Já são 243 os casos confirmados de COVID-19 e todos os dias o número aumenta. O espaço de isolamento para as pessoas com COVID-19 é apenas um retângulo enorme, separado por arame farpado do resto do campo, onde toda a gente pode ver quem são as pessoas infetadas, perto do mar e sem proteção para os ventos frios e tempestades que vêm do mar.

— O novo campo de Moria deverá funcionar como um abrigo de emergência, destinado a cobrir as necessidades imediatas e urgentes das pessoas afetadas pelos incêndios em Moria, em termos de abrigo, alimentação, água, saneamento e assistência médica. Mas nunca poderá ser considerado como uma possível solução de longo prazo.

— É urgente decidir sobre a necessária recolocação ordenada e segura de todas as pessoas para outros Estados da UE.