Imagem de destaque: Ilham Mohib dá as boas-vindas a todos os que foram ao espaço da Porta para participar no Iftar comunitário organizado pela AFAQ. © MEERU
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“Deus fez-nos diferentes para que pudéssemos conhecer-nos uns aos outros”, e há uma nova associação para garantir que isso acontece

Publicado a
12/3/2025

‍— Esta história foi publicada originalmente pelo 7MARGENS.

Acaba de nascer, no Porto, a AFAQ. Parece uma sigla, mas não é. “Afaq”, ou “آفاق” na escrita árabe, é uma daquelas palavras cujo tamanho pequeno contrasta com a dimensão do que significa: quer dizer “horizontes” – assim mesmo, no plural – e foi a escolhida por um grupo de 14 mulheres migrantes e refugiadas muçulmanas a viver no norte de Portugal para servir de nome à associação que decidiram criar. “Afaq” ajuda-as a transmitir aquilo que pretendem com esta associação, explicaram ao 7MARGENS: mostrar que a integração se faz de “múltiplos horizontes de pertença, encontro e partilha, em que diversas comunidades se encontram e caminham juntas”. E esses horizontes começaram a ser desenhados neste que é um tempo particularmente especial para elas e para os muçulmanos em todo o mundo, o Ramadão (que se iniciou no dia 1 de março e se prolonga até ao final do mês), com a organização de um Iftar comunitário. No passado sábado, 8 de março, estas 14 mulheres fizeram questão de partilhar a refeição com que quebram o jejum assim que o sol se põe com outros muçulmanos a viver em Portugal, mas também com cristãos (e porventura com crentes de outras religiões e não crentes, pois o encontro era aberto a todos). Dizem que este foi o primeiro de muitos passos que querem ainda dar para “promover a coexistência, a paz e a harmonia”. Não por acaso, foi dado no espaço da Porta, uma iniciativa dos missionários católicos redentoristas, também ela aberta a todos. O 7MARGENS esteve lá… e aproveitou para entrar.

No número 163 da Rua da Firmeza, mesmo ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a dois passos do coração do Porto, a porta – ou Porta – estava escancarada e tudo convidava a atravessá-la. Fossem a chuva e o vento que se faziam sentir lá fora naquele final de tarde de inverno, ou os sorrisos alegres das mulheres e crianças que estavam logo à entrada a receber quem chegava, ou ainda o colorido folheto que distribuíam com a apelativa mensagem: “Descobre o Espírito do Ramadão! Queremos partilhar contigo uma tradição especial que guardamos no coração!”. O aroma a açafrão, cardamomo, canela e outras especiarias que emanava do interior certamente despertava os sentidos dos mais gulosos. O clarão das grinaldas de luzes que decoravam a sala iluminava a rua já escura: um prenúncio de festa.

“Descobre o Espírito do Ramadão!”, dizia o folheto entregue a quem atravessava o número 163 da Rua da Firmeza, no Porto. Foto © Clara Raimundo/7MARGENS

E foram muitos os que entraram, entre a curiosidade e a vontade de aquecer o corpo e a alma, a ponto de a enorme sala que fica no rés-do-chão da casa da comunidade redentorista no Porto começar a parecer pequena. Ao centro, a grande mesa coberta com uma toalha azul com padrão de mesquitas, luas e estrelas quase desaparecia, de tantas iguarias que lhe iam colocando em cima, umas preparadas pelas mulheres da Afaq, que se revezavam apressadas entre a sala e uma cozinha improvisada na divisão ao lado, outras trazidas pelos familiares e amigos que haviam convidado para partilhar com elas aquele Iftar.

Havia quem não soubesse bem ao que ia e estranhasse o facto de ninguém tocar na comida, mas depressa Mahmoud Soares, membro da direção do Centro Cultural Islâmico do Porto, se dirigiu a todos – e em particular aos muitos não muçulmanos presentes – para explicar: “Estamos no Ramadão, o mês mais sagrado para todos os muçulmanos, e em que, segundo o Alcorão, devemos cumprir o jejum, tal como cumpriram os nossos antepassados”. Durante este mês, detalhou, “todos os muçulmanos com mais de 12 anos e que sejam saudáveis devem abster-se de comer e beber seja o que for, incluindo água, desde o amanhecer até ao pôr do sol”.

Mahmoud Soares, membro da direção do Centro Cultural Islâmico do Porto, falou do significado do Ramadão. Foto © MEERU

A quebra do jejum foi feita às 18h37 – no preciso momento em que, sem que ninguém tivesse chegado a vê-lo naquele dia chuvoso, o sol foi para outras paragens – primeiro apenas com água e tâmaras (fruto várias vezes referido no Alcorão – e também na Bíblia – como símbolo de vida e renascimento). Em seguida, os muçulmanos presentes descalçaram os sapatos, prostraram-se nos tapetes coloridos que cobriam o chão, virados para Meca, e rezaram. Pelo espaço da Porta, ecoaram palavras em árabe, que a maioria dos portugueses presentes não compreendeu, mas escutou num silêncio de respeito, e para alguns também orante.

Só depois todos rumaram – com visível entusiasmo – à grande mesa para provar as inúmeras iguarias tradicionais da Síria, Marrocos, Tunísia e outros países árabes ali representados. Já tinha escurecido completamente e os poucos que passavam lá fora escutavam ecos das conversas e risos vindos do interior, provavelmente pensando que se tratava de um grande jantar para assinalar o Dia da Mulher. Não estavam assim tão longe da verdade. “Este evento é ainda mais especial por coincidir com o Dia Internacional da Mulher, destacando o papel essencial das mulheres na construção de pontes entre culturas”, partilhou  Ilham Mohib, uma das 14 fundadoras da AFAQ.

Na grande mesa ao centro do espaço da Porta, multiplicavam-se iguarias tradicionais da Síria, Marrocos, Tunísia e outros países árabes. Foto ©  MEERU

Muitos mitos por desconstruir

Natural de Meknès (Marrocos), Ilham tem 37 anos e está em Portugal há dois. Veio com o marido e os dois filhos (de 16 e oito anos) em busca de uma vida melhor. Enfermeira de formação, trabalha atualmente como mediadora comunitária para a ONG Médicos do Mundo, no projeto Porto Escondido, que vai ao encontro de pessoas em situação de sem abrigo, utilizadores de drogas, e outros que “vivem à margem da sociedade”.

Mas ela própria se sente, em alguns momentos, marginalizada. “Não acontece sempre, mas por vezes vou na rua e as pessoas, sobretudo as de mais idade, olham para mim com um ar desconfiado, insatisfeito, ou mesmo assustadas… só porque uso um hijab”, partilha. “Se percebem que eu falo português, já ficam mais calmas. Mas há muitos mitos sobre o Islão que precisamos de desconstruir, há muitas coisas sobre a nossa cultura e a nossa religião que precisamos de dar a conhecer para que as pessoas deixem de sentir este medo e esta desconfiança”, defende. “Por isso, criámos a AFAQ.” E cita um versículo do Alcorão, o livro sagrado para os muçulmanos, para reforçar o que acaba de dizer: “Ó humanidade! Nós vos criámos de um homem e uma mulher e vos tornámos povos e tribos para que se conhecessem uns aos outros” [Al-Hujurat, 13].

Ilham Mohib, uma das 14 mulheres migrantes que fundaram a AFAQ. Foto © Clara Raimundo/7MARGENS

“Sim, Deus poderia ter-nos criado como uma só nação, todos iguais, mas diz o Alcorão que nos fez diferentes para que pudéssemos conhecer-nos uns aos outros, e é isso que nós estamos a fazer aqui hoje”, reforça Mahmoud Soares. Ele que é português e se converteu ao Islão depois de ter tido de o estudar na faculdade, durante o curso de Filosofia, assinala ainda que o Ramadão é “o mês da partilha, da tolerância, da comunhão, em que aqueles que se zangaram com alguém devem reconciliar-se, em que procuramos um novo recomeço”. Para Mahmoud, as diferenças entre as duas comunidades religiosas, na realidade, não são tão grandes como muitos possam imaginar. “Neste momento, enquanto os muçulmanos vivem o Ramadão, os cristãos vivem a Quaresma. E o Ramadão e a Quaresma caminham lado a lado, têm ambos uma dimensão purificadora”, exemplifica.

“É preciso dar o primeiro passo”

“Há tantas coisas que temos em comum e tantas coisas que temos parecidas!”, reconhece também Mónica Pinto, que integra a comunidade redentorista do Porto e a equipa do projeto Porta e participou no Iftar organizado pela AFAQ. “Hoje, estamos aqui a perceber que enquanto os muçulmanos estão a viver o Ramadão, um tempo de jejum e de renovação espiritual, nós, cristãos, estamos a viver a Quaresma, que é também tempo de jejum e renovação espiritual… Se nos encontrarmos e conversarmos uns com os outros, como está a acontecer aqui, imediatamente as barreiras que possam existir começam a cair”, defende.

Para esta professora de Matemática, de 47 anos, “encontros como este são ainda mais importantes numa altura em que há cada vez mais opiniões extremadas relativamente aos migrantes” e é importante que as iniciativas surjam no seio das próprias comunidades. “Não vamos esperar que elas venham de fora, ou que venham dos governantes, vamos ser nós. É preciso dar o primeiro passo, como estas mulheres fizeram, para conseguirmos estar em comunhão”, sublinha.

A criação do espaço da Porta pela comunidade redentorista do Porto foi também, ela própria, um importante passo. “O projeto da Porta começou a ser pensado já há muitos anos, desde 2017, numa conversa à volta da mesa, sobre a vontade de abrirmos um espaço para nos dedicarmos ao acolhimento, à escuta missionária, em que qualquer pessoa pudesse entrar, encontrar alguém com quem conversar, sentar-se à mesa, fazer parte da casa”, recorda ao 7MARGENS David Bártolo, que também integra a comunidade. “O nosso sonho era que na Porta pudessem entrar todos, independentemente da sua orientação sexual, nacionalidade, identidade religiosa… e que se sentissem verdadeiramente acolhidos aqui. Participar neste Iftar é ver esse sonho a realizar-se”, partilha.

No sábado, antes de se aproximar da mesa, David ficou durante algum tempo a observar. “O que me apeteceu foi ficar a ver. Ver tantas pessoas e tão diferentes à volta daquela mesa, uma mesa cheia como nunca a tinha visto”, revelou. Para este estudante de Teologia, de 24 anos, a imagem à sua frente “era o Evangelho a acontecer”. “Vieram-me à mente passagens das Escrituras, das profecias que dizem que no fim dos tempos chegariam a Jerusalém pessoas de todos os lados, de todas as cores, e o Messias chegaria com elas”, conta.

E não esconde a sua admiração por aquele grupo de mulheres muçulmanas. “Terem esta iniciativa é um testemunho incrível, que para mim fez todo o sentido acolher e no qual fiz questão de participar… Sei que não podemos mudar o mundo sozinhos, mas quando dois ou três – ou ainda mais – se reúnem num ambiente comunitário íntimo, como aconteceu aqui, as boas notícias acontecem… e podem ir-se espalhando”, diz.

“É preciso é dar o primeiro passo, como estas mulheres fizeram, para conseguirmos estar em comunhão”, defende Mónica Pinto, do projeto Porta. Foto © Clara Raimundo/7MARGENS

Desafios também para as crianças

Oriundas de quatro países diferentes (Marrocos, Síria, Argélia e Tunísia), estas 14 mulheres não têm a pretensão de mudar o mundo, mas gostavam que, no país a que agora também chamam casa, algumas coisas pudessem ser mais fáceis.

“Há vários desafios que as mulheres muçulmanas enfrentam quando estão aqui e criámos esta associação para ajudar a encontrar soluções”, diz ao 7MARGENS Naziq Abbas (nome fictício). Naziq, 30 anos, quer dar o seu testemunho e contributo, até porque é uma das mulheres do grupo que melhor fala português, mas prefere que o seu verdadeiro nome não apareça nos média. Tem ainda muito viva na memória a traumática experiência da saída da Síria, juntamente com o marido e grávida de gémeos, para fugir à guerra e ao regime de Bashar al-Assad.

Além disso, no dia do Iftar comunitário – em que se assinalavam precisamente três meses desde a queda do regime ditatorial – Naziq tinha o coração dividido entre a alegria de viver aquele momento no seu país de acolhimento e a angústia de saber que, no seu país Natal, onde deixou tantos familiares e amigos, centenas de pessoas estavam a morrer em confrontos entre as tropas ainda leais ao presidente deposto e as forças de segurança do novo governo.

Foi sobretudo pelos filhos, hoje com oito anos, que Naziq e o marido decidiram fugir. “Ou ficávamos lá e talvez eles nem chegassem a nascer, pois os hospitais estavam todos destruídos, ou arriscávamos sair para que eles pudessem ter um futuro”, explica ao 7MARGENS. E um dos desafios para os quais a associação pretende encontrar resposta tem precisamente a ver com eles, ou melhor: com todas as crianças filhas de migrantes muçulmanos a viver em Portugal. “É muito bom eles crescerem com duas culturas e com duas línguas diferentes, mas no caso do árabe faz-lhes falta que aprendam também a escrita, e não apenas a oralidade”, assinala. “Nós precisamos de aprender o português, e eles precisam de poder conservar a sua língua materna”.

Residente em Barcelos e a trabalhar em Braga, Naziq considera ainda essencial que, nas escolas onde há crianças muçulmanas a estudar, haja ações para dar a conhecer aos restantes alunos a sua cultura e religião. “Os meus filhos são as únicas crianças muçulmanas na escola deles e eu própria fui lá há dois anos, na altura do Ramadão, para explicar à turma deles o que significava para nós este mês, para falar sobre as festas principais que celebramos, e eles adoraram, fizeram perguntas, e levaram para casa uma pequena representação do que é o Ramadão para nós, para mostrar às famílias”, recorda.

Durante o Iftar, Naziq desafiou as inúmeras crianças presentes a recitar alguns versículos do Alcorão, que os pais lhes têm ensinado em casa. “Dar a conhecer a nossa cultura é também o nosso papel. Se nós não o fizermos, quem é que o vai fazer?”, questiona. “Infelizmente, a maioria das pessoas acaba por só ver as informações que aparecem nas redes sociais, e que muitas vezes não correspondem à verdade… Veem o Islão sempre associado ao terrorismo, ou ao Estado Islâmico, que são coisas totalmente distintas”, alerta.

Outra ideia errada que a associação pretende desconstruir é a de que, no Islão, as mulheres são oprimidas e consideradas inferiores aos homens. E Naziq tem a prova: “Se isso fosse verdade, esta associação não seria formada apenas por mulheres, e não teríamos conseguido organizar uma iniciativa como esta”.

Durante o Iftar, Naziq desafiou as inúmeras crianças presentes a recitar alguns versículos do Alcorão. Foto © MEERU

Uma associação nascida de outra

Isabel Martins da Silva, que conhece Naziq desde o momento em que ela chegou a Portugal (foi uma das três pessoas a recebê-la no aeroporto) sabe disso melhor que ninguém. A co-fundadora da MEERU | Abrir Caminho (ONGD de apoio à integração de refugiados com projetos em toda a região litoral norte de Portugal) tem acompanhado o percurso destas mulheres e testemunhou o surgimento da vontade de criar a AFAQ.

“No âmbito de um dos projetos que tivemos na MEERU, chamado Bridges of Faith [em português, “Pontes de Fé”], promovemos no ano passado um ciclo de conversas com algumas pessoas da nossa comunidade, não apenas muçulmanas, mas também cristãs, sobre qual era o papel da fé no seu processo de migração e de integração na sociedade portuguesa, e do qual resultou um artigo que foi publicado no 7MARGENS. Nessas conversas, em que muitas destas mulheres estiveram envolvidas, tentámos perceber se a fé era importante ou não neste processo de se sentirem parte da comunidade em Portugal, que desafios é que ainda sentiam na sua pertença e vivência religiosa…”, explica Isabel Martins da Silva. “E foi então que começaram a surgir muitas questões da parte das pessoas muçulmanas com quem conversámos: se poderiam celebrar as suas festas religiosas e de que forma, se teriam de fazê-lo em privado, se poderiam fazê-lo em público, se os filhos podiam faltar à escola e elas ao trabalho, se essas faltas eram justificadas ou não…”. As questões não surgiram “como reivindicações”, salvaguarda Isabel. “Eram mesmo dúvidas que estavam a ser levantadas, eram inquietações. E da parte de quem tinha filhos havia a preocupação de como assegurar que eles não tivessem de escolher entre dois mundos, mas pudessem viver as diferentes identidades de forma harmoniosa, sem que isso se tornasse uma fonte de tensão… Além de sentirem que era importante promover a informação sobre o Islão e combater a islamofobia”, acrescenta.

Foi dessas inquietações que nestas mulheres “começou a borbulhar uma vontade” de se organizarem e criarem uma associação. Quanto à equipa da MEERU, disponibilizou-se desde logo para apoiá-las. “Em termos formais, estamos a fazer toda a mentoria, ou seja: a ajudar a pensar a associação, os seus objetivos, as suas atividades… E estes primeiros passos da AFAQ estão a ser dados com o apoio do projeto JUNTOS!Porto, que é uma iniciativa conjunta entre a Fundação Aga Khan Portugal e a Fundação ”la Caixa”. Assim, “a AFAQ nasce da MEERU, mas é uma associação completamente nova e é independente da MEERU”, assinala. E já tem mais atividades previstas: “os workshops de árabe para as crianças vão começar nos próximos meses, e serão assinaladas as principais festas do Islão, o  Eid al-Fitr e o Eid al- Adha, tal como fizemos com este Iftar”, adianta Isabel Martins da Silva. Está também já apontada uma ação para 22 de junho, Dia Nacional da Liberdade Religiosa e do Diálogo Inter-Religioso em Portugal.

O Iftar comunitário foi, por isso, apenas a primeira de muitas iniciativas, o que não podia deixá-la mais feliz. Quando a refeição terminou, depois de repartir as sobras das iguarias por caixas e distribuí-las pelos últimos convidados a sair, e de ajudar a arrumar e limpar o espaço da Porta, a cofundadora da MEERU parou para refletir sobre o que tinha acabado de acontecer. “Desde o início da MEERU, há seis anos, que insistimos numa visão da integração assente em relações… visão essa que muita gente não consegue entender, porque acabamos por investir no invisível, o que pode parecer inútil… Mas, se afinarmos o olhar, vamos vendo frutos disso. E agora, com o nascimento da AFAQ, vemos de uma forma muito clara os frutos de investirmos em relações, de investirmos na confiança”, partilha.

Isabel Martins da Silva, ao centro, durante o Iftar comunitário organizado pela AFAQ. Foto © MEERU


Símbolos e sinais

O facto de o Iftar ter sido realizado na Porta, que “apesar de ser um espaço pensado para todos e despido de símbolos visíveis ou óbvios religiosos, não deixa de ser um espaço cristão” foi também “um sinal muito bonito para o mundo” de como o diálogo inter-religioso pode contribuir para essa integração.

E para Isabel esse sinal foi particularmente visível, revelou no final ao 7MARGENS. É que, enquanto o encontro decorria na grande sala da Porta, decorada para a ocasião com motivos islâmicos, as mulheres da AFAQ tinham a sua cozinha improvisada numa sala adjacente, que pertence ao complexo da igreja mesmo ao lado, e que, essa sim, está decorada com motivos cristãos. “É uma sala envidraçada, e os vidros estão pintados com silhuetas de Maria com Jesus ao colo… E, quando eu entrei nessa sala, vi a imagem das mulheres muçulmanas com os seus hijabs refletidas nos vidros, misturadas com a imagem de Maria, também com o seu véu…” Uma visão que resumiu na perfeição o diálogo e o encontro que estavam ali a acontecer. Entre as imagens, a frase: “Em Deus há ternura”. E houve: ternura, amizade, esperança, fé, e o rasgar de novos horizontes – “afaq” – para que todos possam sentir-se integrados em Portugal.

Na cozinha improvisada, a imagem das mulheres muçulmanas com os seus hijabs misturou-se com a de Maria, também ela com o seu véu. Foto © MEERU

O 7MARGENS é um jornal digital orientado por critérios jornalísticos profissionais e independente de qualquer instituição, religiosa ou outra. Divulga informação sobre o fenómeno religioso, no sentido mais amplo do termo, não se confinando à atualidade das diversas confissões e crenças estabelecidas. Procura dar conta das diferentes formas de busca espiritual que marcam o nosso tempo, desvendando as questões, interrogações e percursos que alimentam essa indagação. Tem consciência de que a informação sobre o fenómeno religioso assim entendido constitui um importante instrumento a favor da paz, da justiça social, do conhecimento mútuo, da tolerância e da cooperação entre os mais diversos atores das nossas sociedades. Sabe mais em https://setemargens.com/.

Autores
Clara Raimundo
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