Convidámos três portugueses a sentarem-se à conversa no Dia Internacional da Fraternidade Humana.
Não por acaso, um deles é judeu. Também não foi sorte um deles ser cristão. E não foi coincidência um dos três ser muçulmano.
Com propósito, decidimos juntar à volta da mesma mesa três pessoas que professam três religiões diferentes, mas que se confessam crentes do mesmo Deus.
Desafiámos o Khalid, o Rui e o Joshua a conversar sobre histórias, pessoas, preocupações e esperanças.
- O Khalid Sacoor D. Jamal é um português que professa a religião islâmica. É membro do Observatório do Mundo Islâmico e dirigente da Comunidade Islâmica de Lisboa; integra o painel dos programas ‘E Deus Criou o Mundo’ da Antena 1 e ‘Que mundo, meu Deus’ da TSF.
- O Rui Santiago é um sacerdote católico português e missionário redentorista. É, desde 2019, o Provincial da Congregação do Santíssimo Redentor em Portugal.
- O Joshua Ruah é judeu e presidiu à Comunidade Israelita de Lisboa durante 23 anos. Nessa qualidade, encontrou-se com pessoas como o papa João Paulo II e, por duas vezes, com Yasser Arafat.
Os três disseram que sim à proposta da MEERU, mas com uma condição: ‘Este é o nosso ponto de partida — ou somos irmãos ou tudo desaba. Paz, Salam, Shalom!‘
Também com propósito, quisemos que esta conversa acontecesse no Dia Internacional da Fraternidade Humana, para que aquele encontro de amizade e esperança entre o Papa Francisco e o Imã Al-Tayyeb nos enchesse de inspiração para um caminho concreto e real para a paz. No dia 4 de fevereiro de 2019, como artesãos da paz, estes dois líderes religiosos assinaram a Declaração sobre a Fraternidade Universal, que, com uma clareza inequívoca, condena a blasfémia que é a violência em nome de Deus e da religião.
Em 2024, sabemos, melhor do que nunca, que o ódio gerado pela violência do passado, conservado durante demasiado tempo e preservado como um ídolo, como se fosse indispensável para recordar e defender as vítimas, é um fracasso devastador e aniquilador de qualquer possibilidade de futuro.
Num tempo cheio de sombras, inseguros e com medo, parece que só nos restam duas opções: escolher a violência num dos lados da barricada ou optar pela indiferença egoísta.
E se houver outro caminho? É certo que seremos acusados de ingenuidade. Mas, ainda assim, na MEERU arriscamos uma outra narrativa: a do encontro, sincero e profundo, capaz de gerar amizades improváveis que nos salvam do perigo do autorreferencialismo que nos confina em nós mesmos e corrói a nossa humanidade.
Desengane-se quem pensa que no próximo domingo vamos pôr em diálogo o Judaísmo, o Cristianismo e o Islão. Isso seria impossível. Nenhuma das religiões tem número de telefone, nem caixa de correio, nem campainha na porta de casa para as convidarmos para este encontro. Vamos, isso sim, estar à conversa com um muçulmano concreto, um cristão concreto e um judeu concreto, a partir das suas histórias, porque acreditamos profundamente na força desarmada do encontro, do diálogo e da amizade entre pessoas, para abrir caminhos para a Paz.
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A conversa, moderada pelo jornalista José António Pereira, acontecerá já este domingo, dia 4 de fevereiro, às 15h, na Porta (Rua da Firmeza, 163, Porto).
Para quem está longe, haverá transmissão online do evento. Mas, se puderem, venham mesmo à Porta, porque é bom estarmos juntos.
Este evento acontece no âmbito do projeto ‘Bridges of Faith’, promovido pela MEERU I Abrir Caminho e o Observatorio Blanquerna de Comunicación, Religión y Cultura com o apoio do KAICIID e a parceria do 7 Margens.