A guerra na Síria dura já há nove anos. Fez mais de 380 mil mortos, quase 200 mil desaparecidos, 5,7 milhões de refugiados, 6 milhões de deslocados internos, cidades completamente devastadas e uma disrupção política, social e humanitária sem precedentes.
— No Noroeste do país, na região de Idlib, fica o último reduto da resistência contra o regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad. Esta região é controlada em parte pelo Organismo de Libertação do Levante, uma aliança que integra o grupo ‘jihadista’ Hayat Tahrir al-Sham, e grupos rebeldes, alguns dos quais apoiados pela Turquia.
— Como resultado de um acordo nunca plenamente cumprido, celebrado a setembro de 2018 entre a Turquia e a Rússia para ser criada uma zona desmilitarizada na província controlada pela fações rebeldes de Idlib, esta região é patrulhada pelas forças militares turcas e russas.
— A tentativa do regime de Bashar al-Assad de recuperar o controlo de Idlib e outros diferentes interesses na região levaram a uma escalada de tensão, sendo Idlib bombardeada desde abril de 2019. A partir de dezembro, as forças governamentais sírias, apoiadas pela Rússia, intensificaram a ofensiva nesta região.
— Estes confrontos em Idlib já provocaram a fuga de 900 mil pessoas, a grande maioria mulheres e crianças, umas saindo em direção à fronteira com a Turquia, onde já quase só se circula entre tendas caminhando em fila, outras para zonas rurais no oeste da província de Alepo — trata-se do maior êxodo de pessoas desde o início do conflito sírio.
— Antecipando a chegada de refugiados provenientes da província de Idlib, no início de fevereiro, a Turquia, que acolhe 3.6 milhões de sírios, enviou cerca de 12 mil militares para Idlib, com intuito de reforçar a sua fronteira e impedir a entrada de mais refugiados. Militares estes que acabaram por se envolver em combates diretos com as forças sírias pela primeira vez.
— A 27 de fevereiro, pelo menos 33 militares turcos morreram na sequência de um ataque aéreo realizado pelo regime sírio nesta zona do noroeste da Síria. Este episódio levou Erdogan a pressionar a União Europeia e a NATO, exigindo destas um papel mais ativo na guerra da Síria.
— Para exercer essa pressão, a Turquia abriu as suas fronteiras, permitindo que milhares de refugiados se dirigissem para a Grécia e para Bulgária. A polícia, a guarda costeira e as forças de segurança turcas na fronteira grega receberam instruções para deixarem de controlar a fronteira — controlo este que era resultado do polémico acordo de março 2016, assinado por Erdogan com a UE para para o controlo de fluxo migratórios.
— São mais de 13 000 as pessoas que esperam junto à fronteira fechada da Grécia: um país sobrelotado e incapaz de lidar sozinho com o aumento exponencial da chegada de novas pessoas.
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16 de Março de 2020
📸: As fotografias são de Muhammed Said/Anadolu Agency, via Getty Images e Ivor Prickett via The New York Times.
📋: Texto de Isabel Martins da Silva, Mariana Morais e Pedro Amaro Santos.
🌐 Fontes:
“Para que serve o cessar-fogo de Putin e Erdogan se as pessoas não podem voltar para casa?”
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Dozens of Turkish soldiers killed in strike in Idlib in Syria
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Artigo escrito no âmbito do evento MEERU Convida Amigos - O dia Depois de Amanhã.